Era uma vez um jovem que saiu de casa calçando uns
sapatos novos que tinha comprado na véspera.
Quando os experimentou pareceram-lhe bons, mas agora
sentia que eram demasiado apertados. Passadas
algumas dezenas de metros, os pés começaram-lhe a doer.
Começou então a queixar-se aos amigos dizendo.
— Que desgraça! Só me faltava mais esta! Não posso mais!
Enquanto conversava no passeio com um colega, viu passar
um coxo a quem faltava uma perna. Contudo, ia a cantar.
Mais adiante, cruzou-se com um cego que, de bengala, ia
sorridente, saudando as pessoas. Mesmo sem ver, ele sentia a presença dos
transeuntes.
Um pouco mais adiante, ia um jovem com um braço ao peito,
que tinha partido numa queda. Contudo, ia a conversar alegremente com os
amigos.
O jovem pensou um pouco e disse para consigo:
«Que vergonha! Eu a lamentar-me por causa de uns sapatos
e estas pessoas, mesmo sem pernas, olhos e braços, vão felizes!»
As desgraças alheias não nos servem de conforto.
São, porém, um estímulo a não nos queixarmos facilmente
das nossas pequenas infelicidades. Devemos ser otimistas incorrigíveis, mesmo
quando há nuvens escuras no céu.
Monteiro Lobato
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