domingo, 28 de junho de 2015
domingo, 21 de junho de 2015
domingo, 14 de junho de 2015
Os sapatos
Era uma vez um jovem que saiu de casa calçando uns
sapatos novos que tinha comprado na véspera.
Quando os experimentou pareceram-lhe bons, mas agora
sentia que eram demasiado apertados. Passadas
algumas dezenas de metros, os pés começaram-lhe a doer.
Começou então a queixar-se aos amigos dizendo.
— Que desgraça! Só me faltava mais esta! Não posso mais!
Enquanto conversava no passeio com um colega, viu passar
um coxo a quem faltava uma perna. Contudo, ia a cantar.
Mais adiante, cruzou-se com um cego que, de bengala, ia
sorridente, saudando as pessoas. Mesmo sem ver, ele sentia a presença dos
transeuntes.
Um pouco mais adiante, ia um jovem com um braço ao peito,
que tinha partido numa queda. Contudo, ia a conversar alegremente com os
amigos.
O jovem pensou um pouco e disse para consigo:
«Que vergonha! Eu a lamentar-me por causa de uns sapatos
e estas pessoas, mesmo sem pernas, olhos e braços, vão felizes!»
As desgraças alheias não nos servem de conforto.
São, porém, um estímulo a não nos queixarmos facilmente
das nossas pequenas infelicidades. Devemos ser otimistas incorrigíveis, mesmo
quando há nuvens escuras no céu.
Monteiro Lobato
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